terça-feira, 30 de outubro de 2012

O mito do girassol: chorar ou fazer as unhas? Ninfa ou deusa?

Clítia, de Evelyn Pickering De Morgan (1886-87)
           Já diz o ditado popular: decepção não mata, ajuda a viver. Depois de refletir sobre isso, pensei na diferença de deusas e ninfas diante de uma decepção. Em variados mitos, a diferença no modo de agir diante de uma adversidade é grande. Ninfas choram até secarem (vide Narciso, Hermafrodito), deusas criam uma flor em cima de uma decepção (vide Afrodite e Adônis) .
           A decisão em ser uma e outra cabe somente a você. Pensando nisso, resolvi contar um mito: muitas pessoas conhecem uma flor conhecida como girassol e que tem um comportamento peculiar que é a razão do seu nome. Os gregos contavam um mito para explicá-la. Clítia ou Clítie, era a ninfa do girassol e amava Helius, o deus Sol. Quando ele a abandonou pelo amor de Leucotéia, sofrendo Clítia começou a definhar. Ficava durante todo o dia sentada no chão frio com sua tranças desatadas sob os ombros. Passavam-se os dias sem que ela comesse ou bebesse, alimentando-se apenas das próprias lágrimas.
           Durante o dia contemplava o Sol desde o nascente ao poente. Era a única coisa que via e seu rosto estava sempre voltado para ele. À noite, curvava-se para chorar. Por fim, seus pés criaram raízes no chão e o rosto transfigurou-se em uma flor, que passou a se mover sobre o caule sempre acompanhando o sol. Assim nasceu o heliótropo ou o girassol.
           Para resumir, o sol passa todos os dias e segue seu curso, vivendo a sua própria vida, enquanto a ninfa Clitia permanece enraizada no mesmo lugar perdendo oportunidades de viver.
          Afrodite e Adônis se apaixonaram, mas a felicidade de ambos foi interrompida quando um javali furioso feriu de morte o rapaz. Sem poder conter a tristeza causada pela perda do amante, a deusa instituiu uma cerimônia de celebração anual para lembrar sua trágica e prematura morte.
           Durante os rituais fúnebres, as mulheres plantavam sementes de várias plantas floríferas em pequenos recipientes, chamados "jardins de Adônis". Entre as flores mais relacionadas a esse culto estavam as rosas, tingidas de vermelho pelo sangue derramado por Afrodite ao tentar socorrer o amante, e as anêmonas, nascidas do sangue de Adônis
           Ao comparar a maneira como Clítia e Afrodite lidaram com a dor, cabe perguntar como você lidaria com uma adversidade: ficaria no mesmo lugar perdendo a oportunidades de viver ou iria a luta e criaria uma flor de rara beleza? No contexto de deusas e ninfas, opte por ser deusa. Se ficar consternada ou chateada, abrace a dor se preciso for, mas continue a andar e seja ativa. Criar beleza é possível em qualquer contexto. Beleza se cria em momentos como ir ver a lua, sair com amigos ou simplesmente ir ao salão fazer as unhas. Entre ficar consternada com uma decepção e ir a luta de uma maneira bela, mostre o seu valor e simplesmente aja de maneira literal: faça as unhas, faça algo por você.

domingo, 28 de outubro de 2012

Morfeu era esquisofrênico? - O gênio e o louco



por Sergio Arthuro Mota Rolim*


Esquizofrenia: sonhando enquanto acordado





Uma das primeiras referências conhecidas sobre sonhos vem da mitologia grega. Nix, a deusa da noite, era a mãe de Hipnos, Lissa e Tânatos, que representavam a loucura, o sono e a morte, respectivamente. Hipnos foi pai de Morfeu, o deus dos sonhos (Campbell, 1970). Há, portanto, uma relação entre os sonhos e loucura, desde a antiguidade, através das personificações de Morfeu e sua tia, Lissa. Esta relação é ainda presente nos dias de hoje: os hipnóticos (medicamentos que induzem o sono) foram assim chamados em homenagem a Hipnos, enquanto a morfina (um analgésico opióide que altera a consciência), em referência a Morfeu.


Durante o Iluminismo e os tempos modernos, a relação entre os sonhos e a loucura também foi discutida: Kant dizia que “um louco é um sonhador acordado”, e Schopenhauer levantou a hipótese de que “um sonho é uma psicose de curta duração, e a psicose é um sonho de longa duração”. De acordo com ambos, Wundt também sugeriu que “nós podemos experimentar nos sonhos todos os fenômenos que encontramos nos hospícios”. Mais recentemente, Sigmund Freud, em seu livro A interpretação dos sonhos, postulou que a psicose é relacionada a uma intrusão anormal de uma atividade onírica em um estado de vigília, como se os esquizofrênicos estivessem sonhando acordado (Freud, 1900). Emil Kraepelin, talvez um dos maiores opositores das ideias de Freud, concordava com o pai da psicanálise nesse aspecto (Heynick, 1993).


Desde o final dos anos 50, com a descoberta dos primeiros agentes antipsicóticos, ficou cada vez mais claro que os pacientes esquizofrênicos têm uma atividade dopaminérgica aumentada em algumas vias neurais (Awouters & Lewi, 2007). Baseado nisso, diversos modelos animais de esquizofrenia têm sido desenvolvidos. Em um trabalho recente, Dzirasa e colaboradores (2006) estudaram os padrões eletrofisiológicos de um modelo como esse: nos animais controle, o estado de vigília e sono REM (SREM, do inglês Rapid Eye Movement ou movimento rápido dos olhos) poderiam ser separados por análise espectral, uma vez que as oscilações mais rápidas são mais proeminentes durante o estado acordado, enquanto os ritmos mais lentos, prevalecem no SREM. Nos animais “esquizofrênicos”, no entanto, a vigília e o SREM já não podiam ser dissociados pelo seu conteúdo espectral, proporcionando, por conseguinte, um correlato fisiológico de que a vigília e o SREM são estados que estão entrelaçados na esquizofrenia.


Após estes resultados iniciais, Dzirasa e colaboradores (2006) observaram também que o SREM pode ser suprimido pela diminuição da transmissão da dopaminérgica. Estas observações sugerem, portanto, um papel importante da dopamina na regulação do SREM. Além disso, sabe-se também que o SREM é a fase do sono que está mais associada aos sonhos (Hobson, Pace-Schott & Stickgold, 2000), e que depende da ativação de receptores da dopamina do tipo D2 na via mesolímbica, ou seja, os mesmos circuitos ativados durante a psicose (Joyce & Meador-Woodruff, 1997).


Uma vez que evidências eletrofisiológicas apontam para padrões semelhantes entre a vigília e o sonho na esquizofrenia, as observações mencionadas acima estão de acordo com Kant, Schopenhauer, Wundt, Freud e Kraepelin: os loucos seriam aqueles que sonham acordados. Essas ideias estão relacionadas com a mitologia grega: Morfeu e Lissa, isto é, sonho e loucura. À luz destes argumentos, ficamos propensos a perguntar: Morfeu era esquizofrênico? Provavelmente sim, mas nem sempre…






Sonho lúcido como o oposto da esquizofrenia: vigília durante o sonho


A esquizofrenia, particularmente do tipo hebefrênica, começa no início da adolescência – Hebe era a deusa grega da juventude – com uma notável desorganização do comportamento. Ela evolui com grande prejuízo cognitivo, produzido por uma extrema atrofia cortical, principalmente frontal (Semkovska, Bédard & Stip, 2001). Apesar do fato de que novas drogas estão sendo desenvolvidas, com menos efeitos colaterais, a maioria dos processos patológicos relacionados com a esquizofrenia ainda permanecem desconhecidos.


No entanto, uma espécie de estado mental chamado de sonho lúcido (SL) (van Eeden, 1918) parece estar inversamente relacionado à esquizofrenia (Figura 1). O SL se caracteriza pela consciência do sonhador de estar sonhando durante o sonho. A possibilidade de tornar-se consciente do sonho durante o sonho foi descrita pela primeira vez por Aristóteles em seu livro Sobre o sono e a vigília. No entanto, o SL foi primeiramente verificado de forma experimental por sinais oculares pré-combinados: o voluntário é instruído a mexer os olhos para direita e esquerda, numa quantidade pré-determinada (Laberge, 1980; Laberge et al, 1981; Laberge & Dement, 1982). Dessa forma, estes sinais, que são realizados pelo sonhador lúcido durante o SREM, são então registrados por polissonografia (Brylowski et al, 1989; Tang et al., 2006) com a finalidade de confirmar ao experimentador que o sonhador alcançou um SL.


Como dito anteriormente, propomos que o SL é conceitualmente o oposto da esquizofrenia: se esta parece ser um sonho enquanto se está acordado, o SL pode ser um estado de vigília durante o sonho (Figura 1 – A, B). Isso pode ser melhor entendido se estudarmos o córtex pré-frontal: em pacientes com esquizofrenia, esta região parece ser uma das mais danificadas (Semkovska, Bédard & Stip, 2001). Durante o SREM, há uma desativação do córtex pré-frontal dorsolateral, o que poderia explicar a diminuição da auto-consciência durante o sonho, pois normalmente durante os sonhos não sabemos que estamos sonhando (Maquet et al., 1996). Os sonhos são também caracterizados por uma gama de estados mentais semelhantes às alucinações (sensações e percepções geradas internamente) e delírios (falta de julgamento racional), que são característicos da esquizofrenia (Hobson, Pace-Schott & Stickgold, 2000).


De acordo com essas observações, foi levantada a hipótese de que um aumento na atividade frontal durante o SREM estaria relacionada a um episódio do sonho lúcido (Muzur, Pace-Schott e Hobson, 2002). Em consonância com isso, nosso grupo relatou que os SL estão associados com aumento do ritmo gama na região frontal (30-50Hz) (Mota-Rolim et al., 2008), o que também foi observado por Voss e colaboradores (2009) (Figura 1-C). Assim, aventamos a possibilidade de que a ativação da região frontal, com estimulação magnética transcraniana durante o SREM, poderia desencadear um episódio de SL, experimento esse que pretendemos realizar no nosso laboratório. Nosso grupo de pesquisa também está realizando um estudo epidemiológico sobre sonho e sonho lúcido na população brasileira. O estudo consiste no preenchimento de um questionário on-line, que para ser acessado basta visitar o endereço: http://www.cb.ufrn.br/sonho/


Desta forma, propomos que o estudo do SL pode ser útil para entendermos mais sobre a esquizofrenia, porque vemos esses fenômenos como simetricamente opostos (Figura 1). Os sonhos lúcidos também poderiam ser importantes para as pessoas que sofrem de transtorno de estresse pós-traumático ou depressão grave, que apresentam pesadelos recorrentes, porque se tornar lúcido durante um pesadelo poderia causar menos ansiedade. A investigação científica dos sonhos, dessa maneira, poderia ser importante para o estudo da consciência bem como de doenças que perturbam a consciência.






Esquizofrenia Sonho Lúcido


A- Conceito Sonho durante a vigília Vigília durante o sonho


B- Fenomenologia Patológico Fisiológico


C- Neuroanatomia Hipofrontalização Generalizada Hiperfrontalização Localizada


Figura 1. Diferenças entre esquizofrenia e Sonho Lúcido, de acordo com o conceito (A), a fenomenologia (B) e a neuroanatomia (C).






*Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2004), com iniciação científica na área de sono, memória e ansiedade. É mestre em Neurociências pela Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (2007), trabalhando com a influência dos ritmos biológicos no sono e na memória. Atualmente, é estudante de doutorado da UFRN em parceria com o Instituto Internacional de Neurociências de Natal – Edmond e Lily Safra, e pesquisador do Laboratório do Sono do Hospital Universitário Onofre Lopes, onde pesquisa modelos de regulação do sono e sonhos.


Referências:


Awouters F.H. & Lewi, P.J. (2007). Forty years of antipsychotic drug research: from haloperidol to paliperidone, with Dr. Paul Janssen. Arzneimittelforschung. 57(10), 625-32.


Brylowski, A., Levitan, L. & LaBerge, S. (1989). H-reflex suppression and autonomic activation during lucid REM sleep: a case study. Sleep, 12(4), 374-8.


Campbell, J. (1970). Myths, dreams and religion. New York : EP Dutton & Co.


Dzirasa, K., Ribeiro, S., Costa, R., Santos, L.M., Lin, S., Grosmark, A., Sotnikova, T.D., Gainetdinov, R.R., Caron, M.G. & Nicolelis, M.A.L. (2006). Dopaminergic control of sleep-wake states. The Journal of Neuroscience, 26(41), 10577-10589.


Freud, S. (1900). The interpretation of dreams. London : Encyclopedia Britannica.


Heynick, F. (1993). Language and its dream disturbance. Toronto : Wiley.


Hobson, J.A., Pace-Schott, E.F. & Stickgold, R. (2000). Dreaming and the brain: toward a cognitive neuroscience of conscious states. Behavioral and Brain Sciences, 23, 793-842.


Joyce, J.N. & Meador-Woodruff, J.H. (1997). Linking the family of D2 receptors to neuronal circuits in human brain: insights into schizophrenia. Neuropsychopharmacology, 16(6), 375-84.


Laberge, S. (1980). Lucid dreaming as a learnable skill: a case study. Perceptual & Motor Skills, 51, 1039-42.


Laberge, S., Nagel, L., Dement, W.C. & Zarcone, V. (1981a). Lucid dream verified by volitional communication during REM sleep. Perceptual & Motor Skills, 52, 727-32.


Laberge, S. & Dement, W.C. (1982). Voluntary control of respiration during REM sleep. Sleep Research, 11, 107.

Maquet, P., Peters, J.M., Aerts, J., Delfiore, G., Degueldre, C., Luxen, A., & Franck, G. (1996). Functional neuroanatomy of human rapid-eye-movement sleep and dreaming. Nature, 383,163-166.

Mota-Rolim, S.A., Pantoja, A., Pinheiro, R.S.E., Camilo, A.F., Barbosa, T.N., Hazboun, I.M., Azevedo, C.A., Faber, J., Araujo, J.F. & Ribeiro, S. Lucid dream: sleep electroencephalographic features and behavioral induction methods. Presented at the I Congresso IBRO/LARC de Neurociências da América Latina, Caribe e Península Ibérica, 2008.

Muzur, A., Pace-Schott, E.F. & Hobson, J.A. (2002). The prefrontal cortex in sleep. Trends in Cognitive Science, 6 (11), 475-81.

Semkovska, M., Bédard, M.A. & Stip, E. (2001). Hypofrontality and negative symptoms in schizophrenia: synthesis of anatomic and neuropsychological knowledge and ecological perspectives. Encephale, 27(5), 405-15.

Tang, H., Sharma, N., Whyte, KF. (2006). Lucid dreaming during multiple sleep latency test.Sleep Medicine, 1, 2.

Van Eeden, F. (1913). A study of dreams. Proceedings of the Society for Psychical Research.26. 431-61.


sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Aquela Deusa….




Cada vez que nos referimos a uma mulher como “aquela deusa”!!
Estamos apenas repetindo algo que ocorreu tempos atrás.
Na antiga história da humanidade, onde as mulheres faziam parte da grande deusa.
Sendo mais ligadas à sua natureza feminina.
Eram donas de si, de seus mais profundos desejos.

Viviam em grande harmonia com seus ideais.
Perseguiam suas metas, escolhiam seus objetivos.
Buscavam conhecer mais a natureza: os ciclos da vida, o nascimento e o cultivo.
A fertilidade e a colheita. O poder e a compreensão de sua essência.

De repente, ela, a deusa, foi desapropriada de seu significado.
Menosprezamos a sua feminilidade. E agora…
envergonha-se da sensualidade;
questiona-se a capacidade;
desconfia-se da fertilidade;
negam-se os desejos.
Desconhecemos os nossos poderes.
Assim, todas nós somos e temos deusas em potencial
a serem desenvolvidas dentro de nós, mediante:
a escolha de nossos objetivos,
ao perseguir nossas metas,
ao cultivar nossas idéias,
à colher nossos desejos.
Ao harmonizar, novamente, a nossa essência feminina.






Amor é reconhecermo-nos como capazes de amar aos outros, e a nós mesmos..

Fonte: roda das deusas


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

MITO DE NARCISO E A IMPOSSIBILIDADE DO AMOR PARA O NARCISISTA


ENCONTRO DE ECO E NARCISO: A VERGONHA DA NINFA

Narciso era filho do deus-rio Cephisus e da ninfa Liriope, e era um jovem de extrema beleza. porém, à despeito da cobiça que despertava nas ninfas e donzelas, Narciso preferia viver só, pois não havia encontrado ninguém que julgasse merecedora do seu amor. E foi justamente este desprezo que devotava as jovens a sua perdição.
Um dia a vida juntou Narciso e Eco, uma bela ninfa, amante dos bosques e dos montes, companheira favorita de Ártemis (Diana) em suas caçadas.
Eco tinha um grande defeito: falava demais, e tinha o costume de dar sempre a última palavra em qualquer conversa da qual participava.
Um dia Hera, desconfiada - com razão - que seu marido estava divertindo-se com as ninfas, saiu em sua procura. Eco usou sua conversa para entreter a deusa enquanto suas amigas ninfas se escondiam. Hera, percebendo a artimanha da ninfa, condenou-a a não mais poder falar uma só palavra por sua iniciativa, a não ser responder quando interpelada.
A ninfa passeava por um bosque quando viu Narciso que perseguia a caça pela montanha. Admirou a beleza do jovem e forte a paixão que a assaltou. Seguiu-lhe os passos e quis dirigir-lhe a palavra, falar o quanto ela o queria. Mas não era possível - era preciso esperar que ele falasse primeiro para então responder-lhe. Distraída pelos seus pensamentos, não percebeu que o jovem dela se aproximara. Tentou se esconder rapidamente, mas Narciso ouviu o barulho e caminhou em sua direção.
- Há alguém aqui?
- Aqui! - respondeu Eco.
Narciso olhou em volta e não viu ninguém. Queria saber quem estava se escondendo dele, e quem era a dona daquela voz tão bonita.
- Vem - gritou.
- Vem! - respondeu Eco.
- Por que foges de mim?
- Por que foges de mim?
- Eu não fujo! Vem, vamos nos juntar!
- Juntar! - a donzela não podia conter sua felicidade ao correr em direção do amado que fizera tal convite.
Narciso, vendo a ninfa que corria em sua direção, gritou:
- Afasta-te! Prefiro morrer a te deixar me possuir!
- Me possuir... - disse Eco.
Foi terrível o que se passou. Narciso fugiu, e a ninfa, envergonhada, correu para se esconder no recesso dos bosques. Daquele dia em diante, passou a viver nas cavernas e entre os rochedos das montanhas. Evitava o contato com os outros seres, e não se alimentava mais. Com o pesar, seu corpo foi definhando, até que suas carnes desapareceram completamente. Seus ossos se transformaram em rocha. Nada restou além da sua voz. Eco, porém, continua a responder a todos que a chamem, e conserva seu costume de dizer sempre a última palavra. 

 A FONTE DA VAIDADE 

Não foi em vão o sofrimento da ninfa, pois do alto, do Olimpo, Nêmesis vira tudo o que se passou. Como punição, condenou Narciso a um triste fim, que não demorou muito a ocorrer. Havia, não muito longe dali, uma fonte clara, de águas como prata. Os pastores não levavam para lá seu rebanho, nem cabras ou qualquer outro animal a frequentava. Não era tampouco enfeada por folhas ou por galhos caídos de árvores. Era linda, cercada de uma relva viçosa, e abrigada do sol por rochedos que a cercavam. Ali chegou um dia Narciso, fatigado da caça, e sentindo muito calor e muita sede.
Narciso debruçou sobre a fonte para banhar-se e viu, surpreso, uma bela figura que o olhava de dentro da fonte. "Com certeza é algum espírito das águas que habita esta fonte. E como é belo!",disse, admirando os olhos brilhantes, os cabelos anelados como os de Apolo, o rosto oval e o pescoço de marfim do ser. Apaixonou-se pelo aspecto saudável e pela beleza daquele ser que, de dentro da fonte, retribuía o seu olhar. Não podia mais se conter. Baixou o rosto para beijar o ser, e enfiou os braços na fonte para abraça-lo. Porém, ao contato de seus braços com a água da fonte, o ser sumiu para voltar depois de alguns instantes, tão belo quanto antes.
- Porque me desprezas, bela criatura? E por que foges ao meu contato? Meu rosto não deve causar-te repulsa, pois as ninfas me amam, e tu mesmo não me olhas com indiferença. Quando sorrio, também tu sorris, e responde com acenos aos meus acenos. Mas quando estendo os braços, fazes o mesmo para então sumires ao meu contato.
Suas lágrimas caíram na água, turvando a imagem. E, ao vê-la partir, Narciso exclamou:
- Fica, peço-te, fica! Se não posso tocar-te, deixe-me pelo menos admirar-te.
Assim Narciso ficou por dias a admirar sua própria imagem na fonte, esquecido de alimento e de água, seu corpo definhando. As cores e o vigor deixaram seu corpo, e quando ele gritava "Ai, ai", Eco respondia com as mesmas palavras. Assim o jovem morreu.
As ninfas choraram seu triste destino. Prepararam uma pira funerária e teriam cremado seu corpo se o tivessem encontrado. No lugar onde faleceu, entretanto, as ninfas encontraram apenas uma flor roxa, rodeada de folhas brancas. E, em memória do jovem Narciso, aquela flor passou a ser conhecida pelo seu nome.
Dizem ainda, que quando a sombra de Narciso atravessou o rio Estige, em direção ao Hades, ela debruçou-se sobre suas águas para contemplar sua figura.


AUTOESTIMA X PROJEÇÃO

Indivíduos narcisistas esforçam-se para defender sua fraca autoestima através da fantasia. Eles têm uma imensa mancha na alma (ferida narcísica), que não pode ser mostrada nem mesmo em sua forma de pensar. As fantasias e as expectativas irrealistas surgem cedo na vida dessas pessoas. Os narcisistas têm outros mecanismos de defesa ou formas erradas de pensar. Dentre eles estão a negação, repressão de sentimentos, pensamento radical do tipo, preto ou branco, e a projeção da culpa.
Em geral, eles são rígidos e tem uma forte necessidade de acertar sempre. A autoestima dessas pessoas melhora quando conseguem o que desejam. Nunca sentem remorsos em usarem as pessoas à sua volta. Eles são hipersensíveis às criticas e podem tanto revidar o ataque às outras pessoas, como também, pular fora (sair de fininho, como se diz por aqui). Eles podem afastar-se fisicamente ou, afastarem-se afetivamente, mas, sempre estarão ressentidos. A combinação das defesas utilizadas por esse tipo de individuo distorce a realidade dos sentidos e faz com que falhe em relacionar-se com os demais.
Pessoas com traços severos de narcisismo patológico vivem em busca de um amor ideal que possa cuidar de seu fraco senso de self e dar-lhes um amor incondicional. Eles não pensam que os outros também têm que receber. Eles têm por padrão, distorcer a própria imagem (a fantasia de que eles são superiores aos demais). Tudo que eles pensam sobre si próprios é uma defesa para encobrir seu profundo sentimento de vergonha.
Na mente dos indivíduos narcisistas há um tipo de vão, uma brecha entre o amor que elas idealizaram e o relacionamento real com os parceiros. Eles buscam uma simbiose com o parceiro idealizado que tem a função de estabilizar seu self, mas eles vivem paralelamente, o medo de serem traumatizados. Dessa maneira, eles se refugiam na aparência de parecerem bons sujeitos e com isso, tentam ganhar aprovação e reconhecimento. Quando não conseguem seu intento, eles sentem-se inúteis e feridos como também atacados. A fantasia é uma tentativa de processar informações, emoções e pânicos, não solucionados durante a infância. O objetivo é criar um tipo de maquiagem do que eles não tiveram no período infantil. Eles fazem demandas irrealistas para as pessoas próximas a fim de que possam se sentir bem.
Essas defesas são maneiras que o indivíduo tem de não sentir nada, mas, são ótimas para demandar sucesso quando eles não se sentem bem. Eles não toleram o stress emocional e assim, tendem a projetá-lo sobre os demais, atribuindo-lhes maldade. Pessoas que não podem tolerar seus próprios sentimentos de medo, de dor, ansiedade, desesperança e desespero, certamente não podem reconhecer essas emoções nos outros. Eles negam, racionalizam sua própria contribuição ou participação nos problemas que criam e mantém sua fantasia interna de que são ótimos e que as coisas que fazem estão absolutamente certas. Eles também sofrem de repressão e projeção outros tipos de defesas.
Pessoas narcísicas são sempre repressoras em algum grau, mas nem todos os repressores são narcísicos. O antídoto para o comportamento narcísico é compreender como as defesas dessas pessoas funcionam, identificar e corrigir os erros do pensamento e ensiná-los a tolerar frustrações, ansiedade, tristeza e vergonha. Através desse tipo de aprendizado, podem se tornar mais honestos consigo próprios e também com os demais. Dessa forma, as defesas doentes serão diminuídas.
O indivíduo narcísico que tem as defesas diminuídas pode aprender a viver no mundo da realidade, mesmo que venha a se ferir algumas vezes. Quando forem frustrados, em vez de fantasiarem eles poderão encontrar soluções reais. Com um trabalho duro, pessoas com defesas narcísicas podem aprender a negociar os conflitos de forma apropriada e expressar sua raiva com alguma segurança. Como eles aprenderão a serem mais realistas com seus sentimentos, eles vão construir uma autoestima mais honesta e poderão crescer mesmo que isso signifique ficar vulnerável e enfrentarem estados emocionais desconfortáveis. Na medida em que essas habilidades forem aprendidas, eles poderão conquistar mais satisfação e construir relações equilibradas com os demais.
A psicologia distingue duas formas de narcisismo: o primário e o secundário.  No narcisismo primário, a criança nos primeiros meses de vida não se distingue do mundo exterior. Forma uma unidade tão completa com a mãe que não percebe que as necessidades, as carências, estão dentro dela, enquanto a fonte de satisfação está fora, na mãe. Unida com a mãe, sente-se um ser completo e feliz. Aos poucos, começa a perceber que ela é uma pessoa e a mãe, outra. Toma consciência de sua dependência do mundo exterior para a satisfação de suas necessidades. Rompido o vínculo narcisista primário, a criança dará o primeiro passo para o desenvolvimento satisfatório de sua personalidade.
Quando esse rompimento é doloroso e insatisfatório, tem-se o narcisismo secundário. A criança, e mais tarde o adulto, criará um ego idealizado que se confundirá com seu próprio eu. Imaginar-se-á poderosa, sem necessidade dos outros, e ficará envaidecida com sua -. Não poderá, então, interessarem-se de verdade pelos outros, simplesmente os usará quando servirem para o enaltecimento de seu "poder" e de suas "qualidades".
O narcisismo revela a incapacidade de relação amorosa autêntica. O narcisista só se interessa por quem alimenta a imagem engrandecida e envaidecida que ele faz de si mesmo - o eu idealizado, narcísico. Como esse eu não corresponde a nenhuma pessoa real, as relações narcísicas são superficiais e insatisfatórias. O narcisista é contraditório: precisa do outro para manter sua autoimagem, mas não consegue relacionar-se amorosamente com ele.
A sociedade contemporânea, individualista, sem espírito comunitário e dependente do consumo, desenvolve condições para que o narcisismo aflore. As propagandas investem nos indivíduos, alisando-lhes o ego e tratando-os como onipotentes e merecedores de ver todos os seus desejos satisfeitos.
A pessoa se sente engrandecida, à medida que adquire e possui coisas. Não admite mais as frustrações da vida, reagindo a elas de maneira infantil e destrutiva. A insatisfação permanente, gerada pela impossibilidade de ter os desejos satisfeitos, segundo as promessas do sistema, torna as pessoas agressivas e violentas. A violência é a outra forma da onipotência.
O desejo permanente de fama, sucesso e beleza levam os indivíduos a temer e rejeitar a velhice; por isso, a eterna juventude é glorificada e a velhice, execrada. Envelhecer é crime. Na sociedade narcísica, as pessoas são vazias, incapazes de relações profundas e verdadeiras. Daí a quase impossibilidade de amor entre elas. Não de ser sintomático o surgimento da expressão "ficar com alguém". Ficar, ao contrário de amar, é o verbo da moda.
Superar o narcisismo é desenvolver a capacidade de encontro e de sensibilidade para com o outro, é ser capaz de responder ao seu apelo.

FONTE:  (AAVV. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2002, pp. 108-111)


segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A Mitologia e a Astrologia - Um pouco da constelação Pop


Flechas com magias de amor, seres metade homem, metade cavalo, feras de pelo invulnerável, ninfas que habitam as águas profundas. As façanhas de deuses e heróis da mitologia greco-romana são mais do que meras fantasias de uma época. Nessas histórias e nesses personagens, se revelam padrões de comportamento comum a toda a humanidade ou, dizendo de outra maneira, traduzem arquétipos – imagens psicológicas presentes no inconsciente coletivo, conforme postulou o psicanalista suíço Carl Jung (1875-1961).
Os seres mitológicos personificam paixão, medo, ciúme, perseverança, raiva, paciência e todas as emoções e experiências compartilhadas pelos homens de todos os tempos. Compreender o significado dos símbolos é parte fundamental da psicologia e de outras áreas ligadas ao autoconhecimento – e a astrologia não fica de fora. “A Astrologia é mais antiga do que as civilizações da Grécia e de Roma. Ela surgiu na Mesopotâmia, há 8 mil anos, mas toda a sua vertente ocidental está estruturada nas lendas de deuses como Zeus, Afrodite e Hera e heróis do porte de Hércules, Jasão e Teseu”, diz Marina Ungarettim psicóloga e artista plástica. “As constelações associadas aos signos também fazem referência a passagens nitológicas”, completa.
Cada mito expressa atributos positivos e negativos dos nativos dos signos. Mas as lições contidas nessas histórias não valem apenas para quem é de Peixes, Sagitário ou Touro, por exemplo. “Podemos nos identificar com mais de um mito, pois temos, em maior ou menor grau, as 12 energias que compõe a roda astrológica. O mapa astral individual indica as áreas da vida em que cada força se manifesta”, explica Marina. Assim, as divindades gregas têm muito a dizer para quem quer se conhecer mais e melhor.

21 de março a 20 de abril
Áries - Jasão e os Argonautas: O Chamado da Aventura

Jasão era filho do rei de Iolco, cujo trono foi usurpado por seu meio-irmão, Pélias. O menino, então, cresceu escondido nas montanhas, educado pelo centauro Quíron, que ensinou a ele música, matemática e o manejo de arco e flecha. Quando o jovem saiu do exílio, o tirano, ameaçado convocou o rapaz para uma missão arriscadíssima: buscar o velocino de ouro – uma pele de carneiro mágica, em poder do rei da Cólquida, que era guardada por um dragão que nunca dormia. Ousado e um líder nato, Jasão reuniu os maiores aventureiros da época, como Teseu, Hércules, Orfeu e Nestor. Juntos, construíram um barco, que batizaram de Argos, e com outros 50 homens zarparam rumo à Cólquida. Depois de inúmeras aventuras chegaram ao destino. Ali, a feiticeira Medéia, filha do rei, se apaixonou por Jasão e o ajudou em sua empreitada, preparando uma poção que adormeceu o dragão. Assim os Argonautas recuperaram o velocino de ouro e voltaram em triunfo a Iolco, onde Jasão entregou a pele mágica a Pélias e recuperou o trono que era seu de direito.
Arianos: os nativos desse signo são ousados, empreendedores e voluntariosos. Movidos pelo espírito de aventura, juntam forças e não temem se lançar em empreitadas arriscadas, como Jasão. Impulsivos, muitas vezes se jogam de cabeça nas situaçoes, não avaliando as circunstâncias. Áries em todos nós: O espírito ariano se manifesta quando nos abrimos para a vida de forma espontânea e calorosa e nos lançamos às metas sem medo. Esse impulso guerreiro nos habilita a tomar a dianteira e descobrir soluções objetivas para os problemas.
Áries em todos nós: O espírito ariano se manifesta quando nos abrimos para a vida de forma espontânea e calorosa e nos lançamos às metas sem medo. Esse impulso guerreiro nos habilita a tomar a dianteira e descobrir soluções objetivas para os problemas.
21 de abril a 20 de maio
Touro - O Minotauro e o Labirinto: Instinto e Razão

No próspero reino de Creta, o rei Minos ordenou ao artesão Dédalo, que construísse um labirinto tão bem projetado que quem se aventurasse por seus corredores jamais fosse capaz de encontrar a saída. Nele, Minos abrigou uma criatura terrível, o Minotauro, que tinha corpo de homem e cabeça de touro. De tempos em tempos, os cretenses eram obrigados a entregar ao monstro, sete donzelas e sete rapazes, que entravam no labirinto para nunca mais sair.
Decidido a livrar Creta desse pesado tributo, o herói Teseu (veja signo de Áries), penetrou no labirinto como um dos jovens sacrificados. Teve o cuidado, porém de marcar o caminho de volta deixando atrás de si o fio de um novelo, tecido especialmente por Ariadne, que caiu de amores por ele e era filha de Minos. Com sua espada, Teseu matou o Minotauro e libertou Creta do jugo do rei sanguinário.
Taurinos: materialistas, ambiciosos, decididos, os nativos valorizam o poder e a segurança. Detêm a força do elemento terra, seu regente, mas devido ao excessivo enraizamento podem se acomodar, como os bois. Assim como o Minotauro exigia o sacrifício dos jovens, os taurinos podem se tornar escravos dos instintos e da busca pelo prazer.
Touro em todos nós: a cada momento em que adotamos uma postura prática frente à vida e trabalhamos com afinco e persistência, estamos imbuídos da energia taurina por excelência. Essa força nos move também a penetrar no labirinto interior de nossas emoções, assumindo o risco de encontrar uma fera irascível, o nosso Minotauro.
21 de maio a 20 de junho
Gêmeos - Castor e Pólux: Múltiplos Talentos

Certo dia, o deus supremo, Zeus, desceu do monte Olimpo à terra para um de seus passeios. Viu Leda, esposa do rei Tindareu, de Esparta, banhando-se num rio. Para seduzi-la, Zeus se transformou em cisne. Leda engravidou e deu à luz aos gêmeos, Castor e Pólux. Um dos meninos, entretanto, era filho de Tindareu esposo de Leda e, portanto, mortal, enquanto o outro, gerado por Zeus, era um semideus.
Castor e Pólux cresceram inseparáveis e se tornaram rapazes dotados de talento, extraordinária inteligência e vigor físico. Tanto que foram convocados para a épica aventura de Jasão e os Argonautas em busca do velo de ouro (veja o signo de Áries).
A mão do destino interveio quando Castor, que era mortal, foi abatido numa batalha. Enlouquecido de dor, o imortal Pólux implorou a Zeus que o levasse também. Para uni-los o deus transformou os dois irmãos em estrelas, formando a constelação de Gêmeos. Havia, no entanto, uma condição: os rapazes deveriam passar metade do tempo no céu e a outra metade na terra.
Geminianos: versatilidade e pensamento independente são características dos nativos desse signo. Extremamente mentais, cultivam pontos de vista originais e gostam de se dedicar a várias atividades ao mesmo tempo, como se desdobrassem em mais de uma pessoa, tema do mito Castor e Pólux. Nesse afã, correm o risco de desperdiçar energias, sem levar as tarefas a cabo.
Gêmeos em todos nós: sentimos o despertar da energia típica dos gêmeos mitológicos ao fazer pleno uso das faculdades mentais, estabelecer associações rápidas e adotar posturas versáteis. A duplicidade geminiana sinaliza ainda uma exigência típica de nossos tempos: a necessidade de trocar continuamente de posição para olhar a vida. E mais: talento para ser múltiplo e conciliar trabalho, família e relacionamentos é qualidade de que ninguém pode prescindir.
21 de junho a 21 de julho
Câncer - A Hidra de Lerna: Emoções Indômitas

Em um de seus 12 trabalhos, o herói Hércules foi convocado a matar a Hidra de Lerna, monstro que habitava um pântano na região de Argos. A fera tinha nove cabeças, que destilavam veneno, e uma delas era imortal. Caso uma fosse cortada, nasciam outras três no lugar.
Na luta, cada vez que Hércules decepava uma cabeça, seu servo, Iolau, imediatamente cauterizava a ferida com uma tocha, impedindo que as cabeças nascessem novamente. Foi quando a deusa Hera, inimiga do Herói, vendo que ele sairia vitorioso da empreitada, enviou um caranguejo para morder seu pé, e distraí-lo. Ele, entretanto, sem pestanejar, esmagou o crustáceo. Em seguida, decepou a cabeça imortal da Hidra e enterrou-a sob uma pedra. Assim, derrotou o monstro.
Entristecida, Hera colocou o caranguejo no céu, formando a constelação de Câncer.
Cancerianos: as várias cabeças da criatura simbolizam o turbilhão de afetos que muitas vezes nos arrebata. O embate entre Hércules e a Hidra fala da importância de dominar as emoções quando forças antagônicas estão em jogo. Os cancerianos, considerados como carentes e maternais, freqüentemente são vítimas de excessos emocionais, que os coloca em situações difíceis – pantanosas, por assim dizer, como o local onde vivia o monstro. O nome Hidra, aliás, significa “água”, o elemento de Câncer, signo representado pelo caranguejo.
Câncer em todos nós: a cada vez que expressamos sentimentos profundos e formamos vínculos emocionais duradouros – com a terra natal, a família e a infância, por exemplo -, estamos dando vazão ao nosso lado canceriano.
22 de julho a 22 de agosto
Leão - O Leão de Neméia e o Orgulho Invencível

Vencer o sanguinário leão que devorava homens e rebanhos nos bosques de Neméia foi o primeiro trabalho dos 12 encomendados ao herói Hércules. Sob as ordens do rei Euristeus, que exigiu a entrega do animal depois de abatido, Hércules adentrou a floresta para descobrir que tanto sua pesada espada como as flechas envenenadas eram inúteis contra o monstro, de pele invulnerável. O herói, então, se atracou à fera numa luta corpo a corpo e estrangulou-a com as mãos nuas. Depois de levar o leão morto a Euristeus, Hércules passou a usar sua pele, tornando-se mais poderoso.
Leoninos: os nativos esbanjam autoconfiança e alegria de viver. Gosta de estar no centro das atenções e, como o animal rei da selva, sabem ser governantes e líderes. Protegidos sob uma couraça precisam, entretanto, aprender a controlar a cólera e o orgulho excessivo, da mesma forma como Hércules sufocou o Leão de Neméia.
Leão em todos nós: a força leonina se manifesta em nós por meio de ações confiantes e otimistas. E ter orgulho de nossas conquistas é justificado. Mas, quando o ego fica inflado demais e somos vítimas da soberba e da arrogância, é preciso cultivar a humildade e a modéstia.
23 de agosto a 22 de setembro
Virgem - Deméter, a Deusa das Colheitas

Uma das 12 divindades máximas do Olimpo, a morada dos deuses, Deméter era a responsável pela fertilidade da terra. A deusa – de cujo nome romano, Ceres, vem da palavra cereal – amava os campos e preferia passar o tempo em longos passeios pelas plantações, permanecendo no Olimpo apenas o necessário para participar de conselhos e julgamentos. Generosa em sua atribuição de prover o alimento era mais amada do que temida pelos homens.
De um romance com o supremo Zeus, Deméter teve uma filha, Perséfone. Certo dia, a moça colhia flores quando foi notada por Hades, o senhor do mundo subterrâneo, lugar por onde as almas vagavam após a morte (veja o signo de Escorpião). Impressionado pela beleza de Perséfone, Hades a raptou.
Deméter ficou furiosa. Sua dor e indignação foram tamanhas que o próprio Zeus se dispôs a impedir o casamento. Depois de muita negociação, os deuses chegaram a um acordo: Perséfone viveria nove meses com a mãe, na terra, e três meses com Hades, no reino dos mortos – em certas versões seriam seis meses em cada lugar. A partir daí, durante o tempo em que fica sem a filha, a desolação de Deméter a impede de exercer sua influência benéfica sobre a natureza: são os tempos invernais, em que a vida se recolhe e nada floresce.
Virginianos: pela capacidade instintiva de os nativos saberem separar o joio do trigo – o útil do inútil, o saudável do insalubre, o oportuno do prejudicial – o signo está associado à capacidade de discernimento. Meticulosos, diligentes e críticos, os virginianos, como Deméter, gostam de colocar seus talentos a serviço da humanidade. O problema é que focam tanto os detalhes que podem perder a noção do todo.
Virgem em todos nós: quando exercemos o espírito crítico e analítico e separamos os grãos da palha, estamos imbuídos do espírito desse signo. Colocar nossos dons e talentos em prol do bem-estar dos outros – como fazia a deusa das colheitas, abençoando as plantações – é outra atitude essencialmente virginiana.
23 de setembro a 22 de outubro
Libra - Eros e Psiquê: O Triunfo do Amor

Certo dia espalhou-se a notícia de que existia na terra uma mulher mais bela do que Afrodite, a própria deusa da beleza. Ela não suportou a ideia de uma concorrente – ainda mais sendo uma mortal – e pediu ao filho Eros, o deus do amor, que matasse a moça. Ele, porém, ao avistar Psiquê amarrada a uma rocha, com os olhos vendados, sem querer feriu a si mesmo com uma de suas setas mágicas e acabou se apaixonando. Levou-a para seu castelo e, a fim de que a moça nunca descobrisse sua identidade, advertiu-a para usar a venda em todos os momentos em que estivessem juntos.
Um dia, as irmãs de Psiquê foram visitá-la, e invejosas de sua felicidade, convenceram-na a tirar a venda, sugerindo que seu amado só poderia ser um monstro. Numa noite de amor, ela tirou a venda e Eros voou pela janela. Psiquê então suplicou a Afrodite que devolvesse seu amado. A deusa concordou desde que a moça cumprisse com uma série de tarefas – quase impossíveis. Ajudada pelos animais, Psiquê saiu vitoriosa dos desafios. A deusa então não teve remédio senão reunir os amantes, que viveram felizes para sempre.
Librianos: a busca da harmonia é a meta dos nativos, não apenas na arte, onde demonstram incríveis talentos, mas especialmente nos relacionamentos. Têm horror à solidão e fazem tudo para não ficar sozinhos, podendo até mesmo abdicar de um amor verdadeiro em prol de uma relação superficial, porém estável. Supervalorizam também a opinião alheia, como fez Psiquê ao dar ouvidos às irmãs invejosas.
Libra em todos nós: é sempre o lado libriano que nos abre a porta da crença no amor verdadeiro. Para alguns, esse chamado é tão forte a ponto de fazê-los se sujeitar a todas as provas para conquistá-lo – ou tê-lo de volta, como fez Psiquê, que reconquistou se amado Eros depois de cumprir uma por uma as tarefas ordenadas por Afrodite.
23 de outubro a 21 de novembro
Escorpião - Orfeu e a Descida ao Mundo Subterrâneo

Poeta e trovador, Orfeu cantava e tangia sua lira com tamanho talento que os animais selvagens se calavam e as árvores se inclinavam para ouvi-lo. Quando sua esposa, a ninfa Eurídice, morreu ao ser picada por uma cobra, o jovem ficou tão inconformado que decidiu descer ao mundo do deus das profundezas, Hades, onde vagavam as almas, para resgatá-la. No reino das trevas, a música e a voz divinas de Orfeu lhe abriram passagem: o feroz cão Cérbero, que guardava a entrada, deixou-o passar e o barqueiro Caronte o conduziu na travessia do rio, onde os mortos se banhavam para esquecer o passado.
Sua prova de amor comoveu até o deus e sua esposa, Perséfone, que concordaram em devolver Eurídice. Com uma condição, porém: ao sair do mundo das sombras, Orfeu iria à frente, seguido pela mulher, mas não poderia olhar para trás em hipótese alguma. O poeta aceitou a imposição e estava quase fora quando foi dominado pela dúvida: e se tudo não passasse mesmo de um estratagema e Eurídice não estivesse ali, junto dele?
Orfeu não aguentou  Voltou-se e viu Eurídice se esvair como fumaça. O herói ainda tentou retornar, mas dessa vez sua entrada não foi permitida.
Escorpianos: os nativos desse signo de extremos não temem descer ao nível mais profundo das emoções, como fez Orfeu na visita ao mundo subterrâneo. Sempre arrebatados pela paixão, como o herói trovador, se sentem irresistivelmente atraídos pela exploração de tudo o que é oculto, secreto e reprimido. Nada pior, para Escorpião, que viver de forma superficial.
Escorpião em todos nós: A energia escorpiana se manifesta nos momentos em que experimentamos a sensação de morte e renascimento. Depois de descer às escuras profundezas do sofrimento, da tristeza e do desânimo, emergimos para a luz curados, renascidos e mais fortes. O espírito do Escorpião aparece também quando mergulhamos no mundo das emoções de forma intensa e apaixonada.
22 de novembro a 21 de dezembro
Sargitário - Quíron, o Centauro Curador

Metade homem, metade cavalo, os centauros eram seres grosseiros e viviam em constante arruaça. Tinha na mente e nas mãos a clareza e a destreza da raça humana, enquanto o corpo e as patas os ligavam à terra e ao mundo dos instintos. Seu rei, o sábio Quíron, filho do deus Cronos – Saturno na mitologia romana – destoava do restante do bando (veja signo de Capricórnio). A condição de semideus o tornava imortal, e ele ainda era filósofo e curandeiro, dominava astrologia, matemática, música, medicina e artes de guerra. Freqüentemente, era convocado como mestre de heróis como Aquiles, Hércules e Jasão (veja signo de Áries).
Em uma de suas proezas, Hércules atacou os centauros e, acidentalmente, feriu o pé do mestre com uma flecha envenenada. Quíron, como imortal que era não deixou a vida, mas não foi capaz de curar a si mesmo. Subiu, então, aos céus e se transformou na constelação de Sagitário.
Sagitarianos: o gosto por expandir horizontes (inclusive os interiores) move os nativos na busca do conhecimento, nos estudos elevados e nas viagens. Agem norteados por valores e convicções nobres, como fazia Quíron. O ponto fraco é a falta de humildade e a incapacidade de suportar críticas.
Sagitário em todos nós: ao desenvolver o raro talento de equilibrar razão e instinto – nossas porções, humana e animal – despertamos o lado sagitariano. É a energia desse signo que nos incentiva a viajar, estudar e conhecer novas culturas e modos de pensar. E depois compartilhar esse conhecimento com outros, como fazia Quíron com seus discípulos.
22 de dezembro a 20 de janeiro
Capricórnio - Cronos, O Senhor do Tempo

Filho de Urano e Gaia (O Céu e a Terra), Cronos destronou o próprio pai. Para isso, em conchavo com a mãe, esperou Urano dormir e o castrou, atirando seus genitais no mar – da espuma, nasceu Afrodite, a deusa do amor. Em outro acordo, dessa vez com o irmão primogênito, Titã, Cronos ganhou direito a governar seu reino. Titã, entretanto, impôs a Cronos uma condição: sacrificar sua descendência masculina para que a sucessão ficasse reservada a um filho seu.
Derrotado por Zeus, Cronos foi aprisionado por um tempo no Tártaro, uma região subterrânea abaixo do reino de Hades. Libertado, coube a ele o papel de consolidador do Universo: sem sua atuação, nada tornaria a forma definitiva e duradoura.
Como Cronos em grego significa “tempo”, ele geralmente é representado como um velho de cabeços brancos e barba longa.
Capricornianos: pacientes e perseverantes, verdadeiros donos do tempo, os nativos trabalham com afinco para cumprir a tarefas assumidas, assim como fez Cronos. Geralmente tomam para si as responsabilidades e não descansam até concluir os planos iniciados. Com rara disciplina e senso de dever, preferem se ater padrões e estrutura estabelecidos a correr riscos.
Capricórnio em todos nós: sabe os momentos em que é preciso exercitar toda a paciência e persistência para alcançar um objetivo? É quando somos mais capricornianos do que nunca! Esse espírito se manifesta, também, nas vezes em que nos esforçamos e trabalhamos duro para consolidar conquistas, do mesmo modo que Cronos quis se manter no trono.


21 de janeiro a 19 de fevereiro
Prometeu e o Fogo Divino

Zeus, ao assumir o poder do Olimpo, decide impor aos homens a supremacia divina e negar a eles o poder de comandar o fogo, o grande elemento transformador. Símbolo de inteligência e sabedoria era o atributo capaz de diferenciar os seres humanos dos animais: sem ele, a humanidade permaneceria predestinada a viver na escuridão e a se alimentar de carne crua.
O Titã Prometeu cujo nome significa “previdente”, tinha o dom da profecia e, depois de receber da deusa Palas Atena conhecimentos de astronomia e navegação e entregá-los aos homens, decidiu fazer o mesmo com o fogo. Roubou de Hefestos uma centelha de sua forja, onde ele lavrava as espadas divinas, e o trouxe à terra. Indignado, Zeus acorrentou Prometeu ao monte Cáucaso e colocou uma águia a bicar-lhe eternamente o fígado. O órgão (que os antigos consideravam o mais importante do corpo por representar a vida), devorado de dia, se regenerava à noite, numa tortura sem fim.
Prometeu foi libertado por Hércules, quando este penetrou no mundo subterrâneo de Hades para capturar Cérbero (veja signo de Escorpião). Zeus permitiu que o herói soltasse Prometeu, pois precisava de seu dom de antever o futuro.
Aquarianos: Os nativos desse signo estão sempre engajados em ideais humanitários e sentem necessidade de colocar seu talento a serviço da comunidade. Antenados, têm o poder de antever tendências, como Prometeu tinha o dom da profecia. No mito, a águia, animal que vive nas alturas, simboliza a visão aguda e a clareza de pensamento, também atributos aquarianos.
Aquário em todos nós: nossa porção aquariana desperta sempre que nos engajamos em causas sociais ou na construção de benefícios em prol do próximo. Ou então quando exercemos tarefas criativas, que tragam inovações ou estejam ligadas a novas tecnologias. Às vezes, temos que pagar um preço pelos princípios de “liberdade, igualdade e fraternidade”, o lema aquariano, como fez Prometeu.
20 de fevereiro a 20 de março
Peixes - Nereidas, as Belas do Fundo do Mar

Filhas de Nereu, o velho do mar, as nereidas eram ninfas das águas, lindas criaturas que passavam o tempo dançando nas profundezas. Um belo dia, Poseidon, o deus dos oceanos, passeando em seu coche puxado por cavalos marinhos, se apaixonou perdidamente pela mais bela nereida, Anfitrite. Mas ela, cheia de pudor, se refugiou nos escondidos domínios de seu pai.
Poseidon prontamente enviou um golfinho para perscrutar os mares em busca da sua amada. O animal, ao encontrar Anfitrite, convenceu-a a desposar o deus. A ninfa então subiu no bicho e, escoltada por todas as divindades marinhas, foi levada a Poseidon. As bodas foram celebradas com toda a pompa, e Anfitrite se tornou a rainha das dos mares. Agradecido ao Golfinho, Poseidon o transformou na constelação de Peixes.
Piscianos: como as nereidas, que viviam nas profundezas, os nativos mergulham em dimensões impalpáveis, ligadas à religiosidade e ao mundo psíquico. Como as águas profundas podem se tornar turbulentas e turvas, os sensíveis piscianos costumam ser vistos pelos outros como confusos e instáveis. Embrenham-se com facilidade no inconsciente coletivo, que abriga todas as experiências e emoções da humanidade.
Peixes em todos nós: vivemos momentos piscianos ao fazer um mergulho no mundo das emoções. Esses sentimentos, por vezes, se escondem nas inóspitas profundezas, como o reino de Nereu. Em toda experiência ligada à transcendência – o despertar espiritual, a manifestação da intuição e das fantasias – também se revela o misterioso universo pisciano.

 fonte: Espaço astrológico